Staying hungry, como pensa um dos melhores investidores do mundo e asking for help

Controle seus impulsos

Steve Jobs já dizia “stay hungry, stay foolish“, mas melhor do que ele dizer é a ciência comprovar que o segredo da longevidade não está nos múltiplos suplementos que tentam te vender todos os dias, mas sim em comer pouco. Comer é frequentemente uma fuga, um alívio, talvez a única fonte de prazer do dia. Os alimentos que mais “alegram” o nosso cérebro instantaneamente são aqueles exagerados de açúcar, sal e gordura, representado nos snacks que encontramos na boca do caixa do supermercado, da padaria, no metrô e em todas as esquinas. São aqueles docinhos e salgadinhos que estão prontos para serem devorados, e que tipicamente custam pouco dinheiro. Calorias vazias. Segurar a tentação dos “agradinhos” não é fácil, por isso a crise global de obesidade só se agrava; no entanto, podemos encontrar um gatilho motivacional para a mudança de hábitos ao olhar os dados científicos que mostram como a ingestão de menos calorias do que o recomendado permite que o corpo se mantenha mais “limpo” de toxinas e que o sistema imune e os órgãos funcionem melhor e com menos sobrecarga. A The Economist dedicou uma edição ao tema que eu achei fascinante. Parte das evidências apresentadas vem de estudos realizados na Biosfera 2, um centro de pesquisa avançada localizado em Oracle, no Arizona. A Biosfera 2 é um tipo de “bolha” que permite testar inúmeras hipóteses sobre a vida na Terra com o mínimo de interferência externa, já que os participantes dos estudos tipicamente ficam confinados ao espaço da Biosfera, com controle sobre como se alimentam, se exercitam e dormem. Um highlight do que li na Economist:

Um dos oito biosferianos era Roy Walford, professor de patologia na Universidade da Califórnia, Los Angeles (UCLA). Pesquisas realizadas por Walford e outros mostraram que restringir a alimentação dos animais poderia aumentar significativamente suas vidas. A expectativa de vida de vermes nematóides, moscas-das-frutas, roedores e cães poderia ser estendida em até 50% por meio de protocolos laboratoriais que lhes forneciam uma dieta com todos os nutrientes necessários em termos de minerais, vitaminas e afins, mas com menos calorias do que o considerado normal.

Pedi pra inteligência artificial (ai)produzir uma imagem relacionada à alimentação e longevidade e eis aqui o resultado. Repararam como a posição da mão esquerda está estranha? Bom, a ai impressiona mas ainda há falhas grosseiras, rs.

A Biosfera 2 permitiu a Walford testar a teoria em humanos que não tinham condições de sair para buscar lanches. Com uma ingestão diária de 1.750-2.100 calorias, os biosferianos, já magros para começar, emagreceram ainda mais. Mas após oito meses, seu peso se estabilizou. Embora estivessem magros, seus níveis de energia permaneceram altos. Exames de sangue mostraram respostas fisiológicas que correspondiam às dos roedores com restrição calórica e com expectativa de vida prolongada.

Eu sei que não é fácil, mas bora botar esse cérebro racional para trabalhar e convencer o emocional e primitivo sobre o que realmente nos faz bem.

Michael Moritz: por dentro da mente do melhor investidor de VC da história

Michael Moritz, aos 69 anos, é presença garantida em qualquer lista dos melhores investidores de venture capital da história. Muitos no setor o consideram o melhor de todos, o “Michael Jordan da indústria”. Como managing partner da Sequoia Capital, ele foi pioneiro em identificar e investir em gigantes que ainda dominam o mundo da tecnologia e da Internet, como Google, Yahoo, PayPal, Kayak e Skyscanner. Ele apostou nessas empresas em estágios iniciais, quando quase ninguém conhecia seus fundadores. Começou sua carreira como jornalista e hoje conta com uma fortuna pessoal estimada em mais de 5 bilhões de dólares, conquistada como fruto dos seus investimentos bem sucedidos.

Moritz in the Tenderloin neighborhood, outside the St. Anthony Foundation.
Michael Moritz em San Francisco, EUA

Escutar suas entrevistas e podcasts é inspirador e uma lição de humildade. Pragmaticamente, Michael defende que o sucesso passado não define o futuro, que reconhecer o que não sabemos é fundamental para a tomada de boas decisões, e a importância de estar cercado por pessoas excepcionais. Fica aqui a recomendação de uma entrevista que aborda desde sua visão sobre a crise no oriente médio até sua jornada em venture capital e sua forma de pensar. Entre tantas mensagens que ressoam comigo, uma das principais é sua crença de que investimentos de sucesso no early stage estão diretamente ligados à capacidade do investidor em ser um “student of people“: alguém que, mais do que números, busca entender a mente e o comportamento humanos. Fascinante. Segue parte da entrevista abaixo:

“Você não sente falta dos dias em que seu trabalho era ser o primeiro a identificar que uma equipe anônima de dez pessoas teria sucesso em iniciar uma empresa enorme?

Ontem, junto com Haim Sadger, conheci os fundadores de 20 pequenas empresas, algumas das quais ainda não têm um produto, e foi emocionante. Todas elas começam como azarões, como o ‘Davi’ que mencionamos antes, e enfrentam uma grande luta para tornar suas empresas bem-sucedidas.

Você acredita que é possível desenvolver a capacidade de reconhecer em um estágio inicial a empresa que vai se tornar enorme?

Não. Quando você investe em uma empresa como as que conhecemos ontem, espera que dê certo, que o produto seja recebido com entusiasmo pelos clientes, mas você não sabe disso em tempo real. Nunca estive envolvido em um investimento que se tornou um negócio muito bem-sucedido, sem temer antes que o negócio ia fracassar, nem uma vez sequer.

Nem mesmo quando você trabalhou com os fundadores do Google nos primeiros dias deles?

Mesmo assim. O modelo de negócios inicial era muito diferente do modelo de negócios que conhecemos hoje, e durante os primeiros oito meses do investimento a empresa perdeu uma quantidade enorme de dinheiro e eu temia que ficássemos sem caixa. No final, isso não aconteceu.

Estamos à beira da revolução da IA. O que você acha da indústria que surgiu em torno dela?

Há uma frenesi de investimentos enorme em torno de tudo relacionado à inteligência artificial hoje, e a maioria dessas empresas vai fracassar – assim como as primeiras empresas da Internet, que surgiram entre 1998 e 2000. Exceto que, dentre todas essas empresas, alguns negócios muito significativos cresceram, e o mesmo acontecerá com a inteligência artificial. Então, do ponto de vista dos investidores, muitos deles não ficarão muito felizes com sua inteligência artificial.”

Leia na íntegra aqui.

Não sabendo que era (quase) impossível, ela foi lá e fez

Estou relendo let my people go surfing, a história honesta e apaixonada da criação da Patagonia pela voz de Yvon Chouinard, seu fundador. Quem me acompanha sabe que eu sou fã da marca, produtos, narrativa e execução da Patagonia; inclusive, há um ano escrevi um artigo onde mergulhei no caso deles.

O que chamou a atenção nesta releitura é o relato de Kris McDivitt que, em 1979 e aos 29 anos de idade, assumiu a liderança da Patagonia e da Chouinard Equipment (a primeira empresa fundada por Chouinard que fabricava equipamentos de escalada).

Kris McDivitt, em 1974, que começou a trabalhar com Yvon ajudando a empacotar pedidos

Chouinard diz a Kris: “Aqui está a Patagonia. Aqui está a Chouinard Equipment. Faça o que quiser com elas. Eu vou escalar.”

Kris: “Eu não tinha experiência em negócios, então comecei a pedir conselhos gratuitos às pessoas. Eu simplesmente ligava para presidentes de bancos e empresas, dizendo: ‘Ei, recebi estas duas empresas para tocar e eu não faço ideia do que estou fazendo. Você poderia me ajudar?’

E eles ajudaram. Se você pedir ajuda às pessoas, admitindo que não sabe algo – elas farão de tudo para tentar ajudar. Então, a partir daí, comecei a construir a Patagonia. Eu era realmente a tradutora da visão e dos objetivos de Yvon para a empresa.”

Quantas vezes ficamos com um problema martelando na cabeça antes de abrir a boca para pedir ajuda? Perguntar não ofende e, se bem comunicado, você pode tocar o cérebro e o coração das pessoas e acabar ganhando mais amigos e apoiadores – sempre bem-vindos na jornada empreendedora.


Parece óbvio. Mas o óbvio precisa ser dito e relembrado: stay hungry, aprenda com os melhores – mantendo a humildade, curiosidade e consistência em seu trabalho-, e não sofra sozinho, peça ajuda.

Semana curta pela frente, bora fazer os dias renderem para curtir o feriado com sensação de merecimento.

Alex


Quando você começa a caminhar, o caminho aparece.

Rumi

Coragem ou loucura

Obrigado aos leitores que me acompanham nesta jornada. Escrevo com o objetivo de transbordar tudo o que gostaria de comunicar ao mundo através de reflexões leves e despretensiosas sobre o universo que habito.

Naturalmente, isso toca o mundo de venture capital, tech e empreendedorismo. Mas não queria que fosse o relatório de um banco de investimento, ou que focasse apenas no lado técnico desse mundo – já tem muita gente boa abordando esses aspectos. Olhando para dentro e entendendo os assuntos que me provocam e me fazem refletir e que, ao mesmo tempo, me dão prazer em analisar, escrever e compartilhar, o que está faltando nessa agenda é o lado humano da coisa. O comportamento que faz com que o indivíduo largue o caminho seguro para começar algo novo do zero, a determinação para seguir em frente e não desistir, a realização de sonhos, a vida como uma grande aventura. Esse é o lado de “venture” que me fascina. Essa, para mim, é a magia do empreendedorismo: a exploração e a conquista de novos territórios. A inspiração para o nome desta news vem daí :).

Black and White Mountain Wallpapers | Tranquil Mountain Landscapes |  Happywall

Em paralelo e bastante alinhado com tudo isso, a inspiração pulsa por aqui à medida que exploramos e experimentamos uma nova vida em família. Estar longe de casa me faz questionar e enxergar aquilo que a rotina oculta. Por isso a reflexão de hoje vem de uma conversa inspiradora que eu e o amigo Tiago Luz tivemos com o Riq Lima, co-fundador e CEO da Worldpackers. Há 2 semanas lançamos o podcast “Um Impossível por Vez“, seguindo o mantra que rege a vida do Tiago e com o qual eu tanto me identifico. O Riq é o nosso segundo convidado.

Riq, que é economista formado pela USP, largou o mundo de banco de investimento quando estava em plena ascensão profissional para explorar o mundo e a si mesmo. Com 24 anos e a grana curta, ele rodou por dezenas de países com um mochilão nas costas e muita sede por aprendizado, sendo chamado de “louco” pela família e amigos próximos. Apesar de jovem, seu salário na época era maior do que os salários somados dos seus pais, e o caminho para o sucesso tradicional já estava traçado. Só que não. Riq foi corajoso e seguiu em frente, embarcando no caminho do empreendedorismo na sequência e resolvendo um problema que conhecia bem: a busca por experiências autênticas e baratas. Neste ano, a Worldpackers comemora 10 anos e celebra o impacto em mais de 4,5 milhões de usuários cadastrados na plataforma, mais de 75 mil pessoas que estão vivendo experiências únicas neste momento, e uma empresa que respira os valores dos seus fundadores: facilitar a vivência de experiências fora da zona de conforto aos seus usuários enquanto cresce como negócio de forma sustentável, com margens atrativas e boa geração de caixa. Nesta conversa, refletimos sobre a diferença entre coragem e loucura. Foi um papo bem legal.

Refletindo sobre a rodagem até então, as pessoas que mais me inspiram e provocam têm um lado “louco” bastante pronunciado. São os que sabem o que querem, que têm a convicção para dizer não ao caminho batido e perseguir algo novo. Frequentemente quebram a cara, mas são os que têm as melhores histórias para contar. Histórias que manifestam presença, experiência, e autenticidade. Quando estava terminando o primeiro ano do meu MBA em Harvard, o Cesar Carvalho, que estava na minha turma, decidiu “trancar” o tão sonhado MBA para começar o que se transformou na Gympass. Quem larga o MBA de Harvard para empreender, num momento onde existiam poucos fundos e o capital era bastante limitado na América Latina? Só pode ser louco :).

Quer outra história inspiradora? O amigo Guilherme Bonifácio estava terminando a faculdade de Administração na USP e tinha duas escolhas: ou seguia o caminho de consultoria estratégica, onde poderia crescer rápido e ganhar dinheiro, ou se juntava a outros recém formados para ajudar a digitalizar um negócio de entrega de comida que recebia pedidos por fax. Foi chamado de louco por deixar o salário alto e o caminho do “sucesso” e se juntar ao time da DiskCook, que depois virou o iFood. Isso foi só o começo: o Gui ainda empreendeu na Rapiddo e na Mercê do Bairro.

Num outro papo inspirador que tive essa semana, a empreendedora Marina Proença me lembrou que coragem não é o oposto de ter medo. Coragem é reconhecer seus medos e abordá-los de forma racional, sentindo frio na barriga e transpirando a beleza da superação. Pessoalmente, acho que superação é o grande propósito da vida. Hoje melhor do que ontem, e a base de comparação sou eu mesmo.

Infelizmente, nossa sociedade prega a perfeição. Queremos parecer perfeitos em nossas carreiras, vidas pessoais, startups, etc. O custo dessa busca que valoriza o externo é um desalinhamento com o que vem de dentro e que realmente importa. Coragem é olhar para dentro e entender o que valorizamos verdadeiramente, fazendo esses valores manifestarem no mundo externo com autenticidade. Como diz Adam Grant, “autenticidade não se trata de expressar cada opinião que você tem. Trata-se de garantir que o que você diz (e faz) reflita o que você valoriza.”

Olhando para o Brasil, somos o país onde até pouco tempo atrás os melhores talentos sonhavam com o emprego público concursado e estável. Nossas livrarias e bancas de revistas ilustravam apostilas para “gabaritar”os concursos e alcançar a tão sonhada estabilidade. Em minha própria casa, minha mãe já disse algumas vezes “concurso público é que é bom”. Enquanto nos EUA, o que me chamava a atenção durante meus anos de MBA é que qualquer livraria oferecia uma abundância de livros que remetiam à construção de negócios grandes e disruptivos, com uma clara mensagem que demonstrava um dos valores do país: empreendedorismo.

Hoje a cena por aqui mudou muito. Graças ao volume de capital disponível para inovação e os casos de sucesso e liquidez para os empreendedores e investidores, os melhores talentos querem empreender. A maioria quer resolver problemas urgentes e relevantes, como o aquecimento global. Pode parecer controverso, mas é aqui que entra o poder do capitalismo e o valor do venture capital em fomentar a inovação de forma cada vez mais meritocrática.

Finalizando, sou pai da Aisha e do Kai. A Aisha é uma linda menina de 7 anos e na nossa casa incentivamos o máximo de exposição ao mundo e a superação dos medos, o que é particularmente importante para as meninas, que ainda são rotuladas e moldadas para serem sensíveis e perfeitas. Fica a dica deste TED: Teach girls bravery, not perfection.

Obrigado mais uma vez. Fico feliz em receber feedbacks e comentários sobre estas reflexões; fique à vontade para responder este email, comentar abaixo, ou me escrever no alex@letshike.io.

Let’s hike!

Alex

P.S. o trecho abaixo vem do livro The Good Life, que remete ao estudo sobre felicidade conduzido por Harvard há quase um século. Vale a leitura e reflexão, do trecho e do livro :).

“Há esses dois peixinhos nadando juntos, e eles se deparam com um peixe mais velho nadando na direção oposta, que acena para eles e diz: ‘Bom dia, rapazes. Como está a água?’ E os dois peixinhos nadam por um tempo, e então, eventualmente, um deles olha para o outro e pergunta: ‘O que diabos é água?’

Toda cultura, desde a cultura ampla de uma nação até a cultura dentro de uma família, é parcialmente invisível para seus participantes. Existem suposições importantes, julgamentos de valor e práticas que criam a água na qual nadamos sem que percebamos ou concordemos com elas. Simplesmente nos encontramos neste mundo e seguimos em frente. Esses elementos da cultura afetam praticamente tudo em nossas vidas, muitas vezes de maneiras positivas, conectando-nos uns aos outros e criando identidades e significado. Mas há um lado negativo. Às vezes, mensagens e práticas culturais nos direcionam para longe do bem-estar e da felicidade.”

Robert Waldinger, The Good Life: Lessons from the World’s Longest Scientific Study of Happiness

Jobs to be Done: entendendo a dor do usuário por uma nova ótica

Era fevereiro de 2013 e eu cursava o quarto e último semestre do meu MBA na Harvard Business School quando me deparei com a teoria que mudou minha forma de enxergar e trabalhar com desenvolvimento de produtos. Como parte do curso Building and Sustaining a Successful Enterprise (BSSE), o professor Clayton Christensen nos apresentou a Jobs to be Done, uma ferramenta que nos permite entender exatamente por que estamos “contratando” produtos e serviços. Dos mais de 500 cases e ferramentas de gestão estudados em 2 anos de curso, a Jobs to be Done me marcou profundamente e vale uma revisita a este legado do incrível professor Christensen.

A teoria Jobs to be Done foi desenvolvida inicialmente pelo professor Clayton Christensen da Harvard Business School e seus colegas Scott Cook e Taddy Hall. Christensen é um renomado autor e palestrante na área de inovação e é conhecido por seu trabalho sobre a teoria da inovação disruptiva.

A ideia de Jobs to be Done surgiu quando Christensen e seus colegas estavam estudando por que algumas empresas bem-sucedidas, como a Kodak, fracassaram ao tentar se adaptar às mudanças no mercado e a outras tecnologias emergentes. Eles descobriram que muitas empresas se concentram demais em características e benefícios de produtos e serviços existentes, em vez de se concentrarem nas necessidades fundamentais dos clientes.

A partir dessa pesquisa, Christensen e seus colegas começaram a desenvolver a framework Jobs to be Done, que se concentra em entender os “trabalhos” que os clientes estão tentando realizar em suas vidas e como as empresas podem atender a essas necessidades de forma mais assertiva. A teoria rapidamente ganhou popularidade em muitos setores, incluindo tecnologia, onde é amplamente utilizada para orientar a inovação e o desenvolvimento de novos produtos e serviços.

Importante destacar os aspectos funcionais e emocionais da Jobs to be Done. A dimensão funcional se concentra nas necessidades práticas dos clientes, enquanto a dimensão emocional se concentra nas necessidades mais profundas e subjetivas dos clientes, como suas motivações, sentimentos e desejos.

A dimensão funcional da Jobs to be Done envolve identificar os trabalhos específicos que os clientes estão tentando realizar e os obstáculos que enfrentam ao tentar concluir esses trabalhos. Isso pode incluir coisas como encontrar uma solução para um problema específico, cumprir uma obrigação ou tarefa, ou alcançar um objetivo específico.

Por outro lado, a dimensão emocional da Jobs to be Done envolve compreender as motivações, sentimentos e desejos subjacentes dos clientes. Isso pode incluir coisas como o desejo de se sentir seguro, confortável ou conectado a outras pessoas. Ao entender essas necessidades emocionais, as empresas podem criar soluções que atendam às necessidades profundas e subjetivas dos clientes, criando uma conexão emocional com eles e portanto aumentando sua defensibilidade perante a concorrência.

Para aplicar a ferramenta Jobs to be Done, as empresas precisam entender quais são os trabalhos específicos que seus clientes estão tentando realizar e como seus produtos e serviços podem ajudá-los a realizar esses trabalhos de forma mais eficiente ou eficaz. Isso envolve conversar com os clientes, observá-los usando os produtos e serviços existentes, e analisar os dados para entender o comportamento do cliente.

Por exemplo, o Airbnb entendeu que muitas pessoas procuravam acomodações autênticas e únicas que lhes permitissem vivenciar a cultura local durante suas viagens. Eles projetaram uma plataforma que conecta os viajantes com anfitriões locais que oferecem acomodações únicas e personalizadas em todo o mundo, atendendo ao trabalho específico que seus clientes estavam tentando realizar. O funcional é encontrar um lugar para dormir enquanto estiver viajando, o emocional é viver experiências surpreendentes e criar memórias únicas, o que poucos hotéis conseguem entregar.

Outro exemplo é a Dropbox, que entendeu que muitas pessoas procuravam uma forma segura e conveniente de acessar e compartilhar arquivos de qualquer lugar e dispositivo. Eles projetaram uma plataforma de armazenamento em nuvem que permite aos usuários sincronizar arquivos em todos os seus dispositivos e compartilhar arquivos facilmente com outras pessoas, atendendo ao trabalho específico que seus clientes estavam tentando realizar. Neste caso, o aspecto funcional é muito mais relevante do que o emocional, no entanto oferecer uma experiência fácil, simples e esteticamente elegante contribui para encantar o usuário no aspecto emocional.

Aqui no Brasil, gosto sempre de lembrar do exemplo do iFood, onde trabalhei como estrategista. No aspecto funcional, o óbvio é que o iFood é contratado para saciar a fome. Porém, e mais importante, descobrimos que (emocionalmente) o iFood é contratado para realizar o trabalho de permitir mais tempo ao usuário, evitando que ele tenha que sair de casa ou preparar alimentos em sua cozinha, o que resulta em mais tempo de qualidade em relacionamentos afetivos. O funcional é tipicamente mais fácil de ser substituído (ex. um lanche improvisado, uma ida a padaria da esquina, comida congelada), porém o emocional costuma trazer vantagens mais duradouras, especialmente se combinado a uma ótima experiência do usuário. Como saciar a fome e precisar de mais tempo de qualidade com pessoas queridas são necessidades recorrentes, temos aqui um modelo de negócios maravilhoso.

Para os interessados, vale a leitura dos artigos e livros do professor Christensen, especialmente o artigo “Know your customer’s Jobs to be Done” e o livro “The Innovators Dilemma“. Mais importante do que isso, reflita profundamente sobre o que você e sua empresa estão fazendo e responda: para qual trabalho estão sendo contratados?

Resiliência: o quê, por que e como

“Mais do que educação, mais do que experiência, mais do que treinamentos, o nível de resiliência de um indivíduo determinará quem terá sucesso e quem se perderá pelo caminho. Isso é verdade para pacientes com câncer, é verdade para atletas olímpicos, e é verdade para executivos e empreendedores na sala de reunião”, afirma Dean Becker num artigo de 2002 da Harvard Business Review. Resiliência, portanto, é a habilidade de controlar sua resposta a situações física ou mentalmente estressantes. A ciência mostra que quanto mais resiliente o indivíduo é mais longe ele irá na sua vida pessoal e profissional. Faz sentido. Sucesso é a o reflexo de inúmeras quedas e derrotas que foram encaradas como oportunidades de aprendizado e crescimento.

Na minha experiência convivendo e trabalhando com indivíduos extremamente talentosos – em Harvard, na Nestlé, na McKinsey, na Fullbridge e pelo mundo – fica claro que os mais interessantes são aqueles que passaram por adversidades as vezes pesadas e tiveram força para se reerguer ainda maiores. Eles tem uma energia interna contagiante, empatia e humanidade ao mesmo tempo que demonstram força e determinação certeira. Exemplo? Liz Kwo, minha colega e co-coach no programa que recentemente concluímos em Shanghai pela Fullbridge: nascida em Taipei de mãe solteira, pobre, imigrou ilegalmente aos Estados Unidos com a mãe e a irmã quando ainda bebê. Em San Francisco, onde chegaram de navio, moravam numa garagem enquanto a mãe suava em empregos simples para trazer comida pra “casa”. Ela tinha tudo pra dar errado na vida, mas hoje suas paredes ilustram diplomas da Stanford, Harvard Medical School e Harvard Business School, simplesmente as melhores instituições de educação do mundo. Como? Porque ela sabia que sua única chance seria através da educação e mérito, o qual ela demonstrou sempre sendo a aluna mais engajada, curiosa e determinada. Escutando ela falar fica claro que sua jornada não foi fácil ou romântica, mas ela diz “toda vez que eu me sentia como uma perdedora, alguém marcado para falir, viver na pobreza e ser uma vítima de um mundo injusto e cruel eu fechava os olhos e lembrava que o esforço da minha mãe tinha que valer a pena, e aí eu liberava a fera dentro de mim”. É inspirador escutar isso dela, ainda mais porque suas palavras saem sem dor ou rancor; ela conta sua história com orgulho, suavidade, humanidade ilustrada com vulnerabilidade e determinação para continuar em frente.       

 Claramente, o indivíduo resiliente não é aquele que evita stress de toda e qualquer forma, mas sim aquele que aprende como controlá-lo e transformá-lo em energia produtiva. A pessoa resiliente provavelmente entortará, mas não quebrará, quando confrontada com adversidade, traumas, tragédias e ameaças. Ela é, na maior parte do tempo, ativa e não passiva em relação ao o que acontece a seu redor e em sua vida, sempre acreditando ser autora do seu presente e futuro, e não uma vítima do seu passado.

Bom, mas felizmente muitos de nós não passaram por situações dramaticamente impactantes que balancem nossos valores e nos façam questionar nossa missão no mundo, o que frequentemente se ouve de gente extremamente resiliente (já ouviu a história de alguém que sobreviveu um grave acidente ou doença?). Então, o que fazer se sua vida é confortável e relativamente linear? Os cientistas Steven Southwick e Dennis Charney, da Yale University School of Medicine, recomendam 4 estratégias comprovadas cientificamente para dar um boost em sua resiliência:

Trabalhe com seu físico: fisiologicamente, atividade física moderada promove a liberação de endorfina e dos neurotransmissores dopamina e serotonina, os quais reduzem sintomas de depressão e melhoram o humor. Um experimento com animais mostrou que correr frequentemente diminui fobias diversas e aumenta a coragem para exploração de novos ambientes. O recomendado é uma hora e 15 minutos por semana de atividade aeróbica intensa como corrida e natação, ou duas horas e 30 minutos de atividades moderadas como caminhada, por exemplo.

Aceite desafios e saia da zona de conforto: dar uma passo além do que você normalmente faria, seja nas férias, no final de semana, ou no trabalho, estica sua zona de conforto e potencialmente aumenta sua segurança. Não há limites e cada um sabe o que isso significa para si, mas pode ser vencer um medo, fazer uma apresentação num idioma novo, explorar um outro país com poucos recursos e infraestrutura, ou começar a dizer não ao invés de sempre se moldar para agradar os outros.

Medite, e desenvolva uma visão positiva do mundo: meditar frequentemente pode lhe trazer clareza, foco e facilitar a priorização de onde investir sua energia. Meditar lhe conecta com o presente, evitando lamentações sobre o passado e preocupações excessivas com o futuro. Isso comprovadamente reduz o stress e lhe permite maior controle sobre sua vida e decisões, lhe tornando uma pessoa mais segura e determinada.

Amigos & relações humanas: finalmente, a última tática para aumentar resiliência o estimula a passar mais tempo com pessoas com as quais você demonstra aceitação, respeito e admiração mútua. Só funciona, no entanto, se você estiver realmente conectado aquela pessoa e poder contar com ela para conselhos, dicas ou apenas um ombro amigo. Ajuda se sua network for recheada de indivíduos que são exemplos de resiliência em pessoa, pois você terá role models a observar e seguir. Imitar comportamentos e práticas que deixam os outros mais fortes também pode ser de alto valor. Por exemplo, quando estiver desanimado e pronto pra desistir vale lembrar que existe uma “fera” dentro de cada um de nós, como diria minha colega Liz.

Finalmente, escrever sua história ciente de que você é autor e protagonista, de que você decide gastar mais tempo comemorando pequenas vitórias do que lamentando sobre como o mundo é injusto com você, aumenta sua motivação, determinação, produtividade e, ultimamente, felicidade. É por isso que as universidades e empresas mais concorridas do mundo esperam escutar histórias de superação e resiliência em seus processos seletivos. Dado tudo isso, eu pergunto a você, leitor, e também a mim mesmo: qual o próximo capítulo?